Os sindicatos na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

uma década de desvalorização do papel dos sujeitos coletivos na constituição do espaço público

  • Renata Santana Lima Universidade de Brasília (UnB)
  • Caio Afonso Borges Universidade de Brasilia (UnB)

Resumo

Introdução: O artigo busca refletir sobre o local destinado aos sujeitos coletivos na constituição da democracia e do espaço público do Brasil, sobretudo após o governo Bolsonaro, marcado por

retrocessos sociais, e dentro do contexto de protagonismo do Supremo Tribunal Federal na decisão de matérias constitucionais afetas aos direitos coletivos.

Objetivo: O objetivo é desconstituir a percepção do STF enquanto espaço de contenção de medidas autoritárias e antidemocráticas e apresentar as contradições das suas posições refratárias à importância dos sujeitos coletivos para a democracia. Em síntese, pretende-se entender como as razões de decidir da Corte se afastam da valorização dos sindicatos como fundamentais à democratização da sociedade brasileira.

Metodologia: Em relação à metodologia, além da revisão bibliográfica, realizou-se o levantamento das decisões do STF em matéria de Direito Coletivo do Trabalho em sede de Ações de Controle Concentrado de Constitucionalidade ou com Repercussão Geral Reconhecida nos últimos dez anos. Foram analisados os votos vencedores dos processos selecionados para verificar a existência de eventuais modificações e/ou radicalizações nos argumentos utilizados pela Corte.

Resultados: Como resultado, identificou-se que as posições vencedoras na jurisprudência do STF se afastam da valorização do sindicatos como sujeitos coletivos fundamentais à democratização da sociedade brasileira.

Conclusão: Em conclusão, entende-se que o STF tem uma percepção míope dos sujeitos coletivos enquanto partícipes de uma sociedade plural, o que se apresenta como um importante indicador do déficit democrático no Brasil e revela a perpetuação de contradições entre uma perspectiva autoritária, que nega os sujeitos coletivos e suas potencialidades, e o texto constitucional de 1988 com sua carga democratizante. Por fim, verificou-se inicialmente uma chancela dos sindicatos para flexibilizar as condições de trabalho e, posteriormente, uma guinada radical em direção à negação da necessidade de existência e atuação desses sujeitos coletivos, revelando um alinhamento com as perspectivas autoritárias e com o pensamento neoliberal.

PALAVRAS-CHAVE: Democracia. Jurisprudência. Sindicato. Supremo Tribunal Federal.

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Biografia do Autor

Renata Santana Lima, Universidade de Brasília (UnB)

Doutoranda em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília. Mestra em Direitos Fundamentais e Justiça pela Universidade Federal da Bahia com bolsa CNPq. Graduada em Direito pela Universidade do Estado da Bahia. Integra o Grupo de Pesquisa Transformações do Trabalho, Democracia e Proteção Social, o Observatório Trabalhista do Supremo Tribunal Federal da Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista (REMIR) e o Grupo de Pesquisa Trabalho, Interseccionalidades e Direitos (FD/UNB).

Caio Afonso Borges, Universidade de Brasilia (UnB)

Mestrando em Direito, Estado e Constituição pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília (PPGD-UNB), sublinha Internacionalização, Trabalho e Sustentabilidade. Graduado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania (UnB/CNPq). Membro do Grupo de Pesquisa Trabalho, Interseccionalidades e direitos (FD-UnB).

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Publicado
2024-03-25
Como Citar
Renata Santana Lima, R. S. L., & Caio Afonso Borges, C. A. B. (2024). Os sindicatos na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: uma década de desvalorização do papel dos sujeitos coletivos na constituição do espaço público. Revista Jurídica Trabalho E Desenvolvimento Humano, 7. https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.168
Edição
Seção
Artigos em Fluxo Contínuo